NASCER DO SOL

*Aurea Abensur*
(Orinho)

Quando nasce o sol
vou sorrateira com meus passos
afiando os dedos de minhas mãos
rasgando as cisternas do céu
inundando de azul minhas dores
tentando abortar pudores
esvaziando do peito meus temores
Chegando em ti mar, me entrego
às vezes suspensa no espaço
ou com a alma ajoelhada
inundando-me no teu regaço
entrego-me nas tuas águas
que só renova e alivia
meus próprios estilhaços

Salvador, indo...

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ONTEM

*Aurea Abensur*
(Orinho)

Ontem me perdi
na luz do crepúsculo
olhando naquele céu esbraseado
a chegada da lua
linda, sorrateira
completamente dona da rua
Quis voar até ela
numa vontade frenética
tropeçando nas nuvens
segurando-me nas estrelas
na noite totalmente nua
com a saudade que arrepiava meu corpo
Fechei os olhos
segui meu caminho
envolvi com meu carinho
almas muito mais sofredoras
agradeci por meu pranto
me cobri com meu manto
e chorei por meu tanto

Salvador, ainda lua cheia

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PRECISO

*Aurea Abensur*
(Orinho)

Preciso ficar quieta
com a minha tristeza
segurando o pranto
para não gritar de dor
espalhando pelos quatro cantos
esse choro guardado
com tanto amargor.

Preciso ficar em silencio
pra não querer voltar
ao porão da saudade
fazendo minha alma tornar
a reviver a aflição
de não poder te amar

Preciso por mim ter compaixão
procurar uma semente fresca
que possa de novo germinar
amor no meu coração
e reacender a chama da vida
apagada na minha emoção

Preciso libertar-me do passado
ser de novo um ser vivente
desnudar-me e recuperar a sabedoria
esquecer o que ainda está amarrado
pois quem vive de lembranças
não é tão sábio como pensa

Salvador, precisando ...

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PASSAGEM

*Aurea Abensur*
(Orinho)

Meu jasmineiro como nunca dantes,floriu.
As frutas todas, amadureceram.
Os trevos com seu verde meu templo coloriu
Ao longo de intermináveis dias dei-te
A seiva mais fecunda dos meus sonhos.
Rodeei minha vida com ilusões.
E de repente um chuvisco trouxe consigo uma tempestade
A terra inundada, segredos pariu.
O verão terminou.
De repente, a paixão desabou
Lentamente agora, avanço para curar-me
Quero das minhas próprias lágrimas beber
Sentir no seu sal o sabor doce da vida
E ainda desta fruta doce e madura chamada vida
Quem sabe? poder ainda absorver

Salvador, indo...

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REDEMOINHO DO TEMPO

*Aurea Abensur*
(Orinho)

No mosaico dos dias,
há diversas pastilhas.
No arquipélago do tempo,
as estações, as ilhas.

Na plantação das páginas,
os dias parecem grãos.
Os meses decrescem
de minhas mãos.

O pêndulo dos segundos
em sua oscilação,
me abana esperanças,
ou responde: Não?

Olho os espelhos dos relógios
vejo meu rosto refletido.
Escrever sobre a vida é buscar
ao redemoinho sentido?

As ventanias me trazem,
folhas dos calendários.
Na gaveta as páginas,
segredos, aniversários.

No encanto de cada dia,
num canto um "X"
É a obrigação secreta,
de ser cada dia mais feliz.

Salvador... lembrando

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SERENAMENTE GRATA

*Aurea Abensur*

(Orinho)

Das profundezas escuras

ocultos pensamentos

até a mim chegaram

vindos pelas poderosas correntezas

da sabedoria de antigos mestres

Trouxeram-me ensinamentos

que chegaram como bolhas

à tona num pequeno e límpido lago

Sutilmente na superfície os recebi

solene com respeito e autoridade,

corretos e verdadeiros

com seus valores universais Serenamente os reconheci e aceitei

Tornei-me una com o amor consciente

com o espírito de luz do amor

que tira o pó do espelho

da infinita eternidade

Salvador, noite no tempo...

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BRINCADEIRA DIVINA

*Aurea Abensur*
(Orinho)

às vezes te vejo em tudo.
às vezes acho que sou louca.
mas se medito um minuto,
te sinto materializado a minha volta.

todos os dias quando amanheço,
entre o sonho e a realidade;
penso... me perdi no paraíso...
pois és tão real comigo.

olho pro orvalho e te vejo nas gotas
na minha cama te vejo dormindo,
e quando acho que não mais comigo estás,
olhas-me lindo, sorrindo.

e percebo mesmo sem querer,
que tudo é uma brincadeira divina.
pra que a distância entre nós,
ajude-me à saudade sobreviver.

acaricias-me e me dizes em silêncio:
a dor é o prelúdio da alegria!
e vendo o sol surgindo,
compreendo o sentido da vida.

onde um dia sou só choro
no outro me esvaio em sorriso,
mas quer seja sorrindo ou chorando,
um dia ainda nos encontraremos nas voltas da Lila.

Salvador, indo...

PARAÍSO

*Aurea Abensur*
(Orinho)

O paraíso
Nos quer molhados
Sob as águas
Ou secos
Sobre dunas
Mas, sem mais saudades
Em nossos almejos
Lá, estaremos juntos
O mar em sua grandeza
Nos abrigará
E para nós nascerá
Um novo sol
Iluminando esse novo mundo
Onde ouviremos até o cantar
Alegre, faceiro do sabiá
Para nós só reinará
A lei do amor
Sem encruzilhadas
Um paraíso sem dor

Salvador, ao por de um sol...

...

AMOR

*Aurea Abensur*

(Orinho)

Amor que se escreve
Amor que não se fala
Amor que eu sinto
Amor que não passa

Fogo que não se aplaca
Ardor que não se acalma
Que ne torna sofredora
Que ne faz pecadora

Porque tanto desejo
Só pode ser pecado
Embora sentimento puro
Impuro nos permeios

Pois nada tem de pudico
Impune sofro os males
Queimo no fogo deste amor
Sofro por sofrer
Sofro por amar
Sofro por não te ter

Salvador, indo...

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ALMA

*Aurea Abensur*
(Orinho)

Minha alma,
compreende o mistério da vida.
Meu corpo sente,
a música da lida.
Meus braços dobram-se
em abraços fortes,
afogando porções sentidas.
A minha voz se solta nos ares
tentando entoar, canções em mim embutidas.
Sou um labirinto de emoções partidas.
Tento ainda no mundo
espalhar meu afeto,
mesmo precisando de proteção.
Transcendental mundo!
Ah a alma humana!
Tão misteriosa!
No inconsciente, puro sentimento
No consciente no entanto,
nada mais do que,
um conjunto de imagens e poesias.

Salvador, hoje...

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AGRADECI

*Aurea Abensur*
(Orinho)

Despida de pudores
abri botões
de sutis realidades
Sentimentos expostos
aos borbotões
a muito guardados
Vívido momento
repleto de prazer
beijei-te todo
Prontos desejos
com desatino te amei
um corpo único em dois
Por natural beleza
de um antigo amor
aconteceu com candura
Findado o momento
não findado o ato
sonhei noite adentro
No mar amanheci
e por nós
a ele agradeci

Salvador, sendo...

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QUEM SOU?

*Aurea Abensur*
(Orinho)

Quem sou?
nuvem a passar pelo céu,
sol a iluminar um horizonte,
broto que da terra surge,
pedra bruta a espera
de lapidação...?
O que importa mais?
Quem sou ou o que busco?
Como buscar a meta
se não sondar quem sou?
Amanheço e anoiteço
a descobrir-me
a revelar-me
escancarando portas do infinito
ultrapassando limites do ego
arrancando máscaras
O desconhecido faz-se conhecido,
o infinito quebra o finito,
e as respostas se fazem ouvir
Assim é minha jornada

Salvador, no tempo...

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